quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Em Olinda, guia dos proporcionais é festival de bizarrices

do BLOG DA FOLHA

Aos que buscam diversão quando assistem ao programa eleitoral gratuito, uma valiosa sugestão: assistam ao guia dos candidatos a vereador de Olinda. É um festival de bizarrices capaz, por si só, de fornecer material suficiente para os "neo-tradicionais" vídeos da internet que compilam os momentos mais inusitados da campanha televisiva. Aparições assombrosas, nomes jocosos, textos desconexos, idéias disparatadas...

Chama à atenção a "criatividade" dos slogans de várias das candidaturas apresentadas. "Contra o abandono da elite, vote Edite" (?), diz a Professora Edite (PSDC). Há ainda Brukutu (PSB), "uma questão de consciência"; a candidatura "não por acaso, mas por uma causa" de Olimpio (PMDB); "o companheiro e amigo" João Pé no Chão (PR), entre tantos outros que seriam dignos de registro. Nenhum, porém, mais enigmático que o bradado por Gustavo Brás (PRTB): "respeitando paredes e muros alheios".

Alguns optam por soltar o gogó e exibir seus talentos musicais. É o caso de Algerio Nossa Voz (PMN), que diz o número cantando, e Cantor Nelson Jones (PP) que abre sua participação entoando os versos "pode roer satanás, pode roer".

O desempenho da grande maioria diante do evidente desconforto e dificuldade em lerem seus textos no "teleprompter" chega a ser constrangedor. Nesse quesito, dezenas de atuações formidáveis, com destaque para Jojó Guerra (PSC), Quidinho (PP), G Paiva (PMDB) e Edinho de Olinda (PV). Este último, não conseguiu dizer o nome de sua candidata a prefeita, que foi denominada de "Jacida Uquizi". As bolas também foram trocadas durante a exposição de Noca da Macaxeira. Ela se disse candidata à vereadora pelo PPS, mas o seu número que aparecia na tela era do PSC.

Renildo lidera com 27,2% em Olinda

Por Renata Gondim
Da Folha de Pernambuco

A primeira pesquisa de intenções de votos para a Prefeitura de Olinda, divulgada hoje pela Folha de Pernambuco em parceria com UFPE/NEPD/Fade, aponta para um disputa acirrada no município. Com um universo de 1.094 eleitores entrevistados em 15 bairros, a amostra aponta a liderança do candidato apoiado pela prefeita Luciana Santos (PCdoB), o deputado federal Renildo Calheiros (PCdoB), com 27,2% dos votos. Em segundo lugar, aparece a peemedebista Jacilda Urquisa, com 21,4%; seguida por Arlindo Siqueira (PTB), com 15,9%; e por André Luís Farias, o Alf (PDT), com 11,8%. Marcos Antônio, do PSOL, registrou 1,2% dos votos, e o Gustavo Rosas (PRP) ficou em último, com 0,8%.

O acirramento da disputa ficará por conta dos olindenses indecisos. O número de votos em branco, nulos e indecisos é alto, atingindo um índice de 21,2%. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O modelo da amostragem foi o mesmo aplicado no estudo feito sobre a disputa do Recife, cujos dados foram divulgados na última segunda-feira. Simulando uma eleição, os eleitores entrevistados recebiam uma cédula com os nomes dos prefeituráveis, marcavam sua opção de voto e especificavam seus dados pessoais (sexo, idade, escolaridade, renda e bairro). O nome das pessoas foram mantidos em sigilo.

De posse dos votos colhidos no último dia 22 de agosto, os pesquisadores dividiram os 15 bairros visitados em três microrregiões, onde o candidato Renildo aparece bem avaliado em todas elas. Na microrregião de Ouro Preto/Sítio Novo/Varadouro/Vila Popular/Jardim Fragoso, o comunista aparece como o preferido do eleitorado com 29,9% dos votos. Outros 20,3% votam em Jacilda, 14,4% em Arlindo e 11,6%, em Alf. O número de votos em branco, nulos e indecisos mantém a faixa dos 21,1%.

Renildo também lidera na microrregião de Bairro Novo/Carmo/Casa Caiada/Rio Doce/Jardim Atlântico, com 29,4% , e vem seguido por Arlindo, com 20,6%. Já a prefeiturável peemedebista aparece como terceira colocada, com 15,3% das intenções, enquanto Alf recebeu 10,6%. Os brancos, nulos e indecisos somam 21,2%. No entanto, é Jacilda quem ocupa a primeira colocação na microrregião de Aguazinha/Caixa D’Água/Peixinhos/Jardim Brasil/Águas Cumpridas, com 27,4% dos votos, seguida por Renildo (23,6%), Arlindo (13,2%) e Alf (12,9). O índice de votos em branco, nulos e indecisos repete a média dos 21,4%. A pesquisa foi registrada na 10á Zona Eleitoral, sob o número 041/2008.

TÁ TUDO LIBERADO!

Os adversários de Mendonça (leia-se, João da Costa) devem ter adorado a decisão do TRE de permitir que o tema "Bolsa Família" seja utilizado nos programas de rádio e televisão. A coordenação jurídica do democrata já está se articulando para tentar barrar, novamente, a decisão.

É só o começo...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Pernambuco sediará projeto pioneiro de piscicultura marinha

A Aqualider, empresa pernambucana que atua no ramo da carcinicultura há mais de dez anos, será protagonista de uma iniciativa inédita no Brasil. A companhia irá implementar, no próprio Estado de origem, o primeiro projeto de criação marinha de peixes em cativeiro do Brasil. O “Projeto Beijupirá” – o nome se refere a um peixe de carne branca, pouco capturado pela pesca extrativa no País – tem como objetivo atingir a produção anual de 10 mil toneladas do animal até 2011.

O empreendimento receberá, inicialmente, R$ 5 milhões em investimentos e a primeira etapa, a ser iniciada em outubro, com a instalação de três tanques-redes com capacidade de produção de 300 toneladas do beijupirá, durará dez meses. Ainda este ano, devem ser gerados 15 empregos diretos. De 2009 a 2015, mais 75. Quando o projeto estiver concluído, em 2015, a previsão é de 600 empregos diretos. Ao todo, serão R$ 10 milhões de recursos investidos ao longo do tempo.

Todo o processo de licitação da Aqualider teve início há cerca de dois anos, quando a empresa promoveu a entrada do projeto na Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap), em maio de 2006. A licitação foi ganha em fevereiro de 2008 e a assinatura do contrato com a União só ocorreu no último dia 14. Por estar se estabelecendo em águas que estão sob domínio da União, a companhia irá pagar, aos cofres públicos, uma taxa anual de R$ 60 mil.

“A cessão pode ser onerosa ou não onerosa, no nosso caso, por se tratar de uma empresa com fins lucrativos, ela é onerosa. O Governo (Federal) abre uma licitação, há uma concorrência, e o vencedor pode assinar o contrato com a União. O que está previsto, na lei, é uma cessão de 20 anos. Ou seja, a Aqualider vai pagar um aluguel à União para utilizar essa água”, explica o gerente da empresa, o oceanógrafo Santiago Hamilton.

A companhia pernambucana, aliás, também é uma das protagonistas de um outro fato novo. Até 2003, os trâmites burocráticos funcionavam de forma diferente. Era o próprio Governo Federal que mapeava as áreas e abria as licitações. Somente depois disso, as companhias podiam concorrer. “Hoje, está acontecendo o inverso. As empresas que tiverem interesse podem solicitar uma área. Na minha opinião, é preciso destacar que isso foi um marco na história do País”, argumenta Santiago. “E nós fomos os pioneiros em cessão onerosa, pois, no final do ano passado, já havia ocorrido uma licitação não-onerosa, em Itaipu”, concluiu.

O Brasil produz, atualmente, 1.160 toneladas por ano do beijupirá. Desse total, Pernambuco responde por apenas meia tonelada. Com a implantação do projeto, a Aqualider espera contar com uma produção de 300 toneladas do peixe, já em 2009. Para isso ser viabilizado, serão instalados três tanques-rede, cada um com custo aproximado de US$ 40 mil, o que inclui a estrutura flutuante, as redes e o sistema de amarração. Tudo será importado do Chile, país com maior conhecimento na área. Até 2011, a empresa pretende ter concluído 48 tanques.

Segundo Santiago, esses tanques serão colocados na praia de Boa Viagem, a 11 quilômetros da Costa e 15 quilômetros do Porto do Recife. Eles têm 25 metros de diâmetro e ficarão a uma profundidade de 30 metros, saindo cerca de um metro acima da água. Preocupado com a visibilidade da “fazenda marinha”, o oceanógrafo afirmou que “no máximo, vai dar para ver as bóias luminosas, pela noite”. A área total do empreendimento é de 169 hectares (1,69km²), mas somente 2,36 hectares são destinados ao cultivo. Como a alimentação dos peixes corresponde a 70% dos custos de manutenção, a Aqualider espera ter uma fábrica própria de ração por volta de 2015. Até lá, a companhia pernambucana também pretende cultivar novas espécies, como robalo, garopa e cioba.

OBSTÁCULOS
Durante o processo de licitação e assinatura do contrato, surgiram alguns entraves quanto à instalação da Aqualider em Boa Viagem. Entre eles, está a forte presença de tubarões naquela praia. De acordo com o gerente da empresa, Santiago Hamilton, o risco de ataque aos tanques-rede é muito pequeno. Ele também minimizou a posição de alguns pescadores, que acusaram a empresa de estar loteando o mar.

"Eu acredito que não é um movimento geral (dos pescadores). A empresa procurou os representantes das colônias próximas à área de produção (Pina, Jaboatão e Cabo) e apresentou o projeto. Todos eles gostaram muito”, esclareceu. Ele também salientou a importância da empresa para a disseminação de postos de emprego e geração de renda na região. “A existência da Aqualider vai facilitar a vida desses pequenos empreendimentos”, afirmou.

O beijupirá será vendido no mercado interno nos próximos dois anos, logo em seguida devem começar as exportações. O faturamento previsto pela empresa é de R$ 80 milhões, até 2011. O preço médio do peixe nos supermercados nacionais gira entre R$ 15 e R$ 20 por quilo.

FONTE: http://www.folhape.com.br/folhape/materia_online.asp?data_edicao=26/08/2008&mat=109006

RAPIDINHAS

TIO SAM
Os integrantes do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed) abriram espaço para uma possível elevação da taxa básica de juros do país no futuro. "Um número de participantes se preocupou com a possibilidade de que o núcleo de inflação não arrefeça no próximo ano, a menos que a política monetária seja apertada mais cedo do que os mercados financeiros esperam hoje", diz trecho da ata da reunião realizada dia 5 de agosto.

CONTAS
O governo central apurou superávit primário de R$ 68,43 bilhões nos sete primeiros meses do ano. Os números correspondem ao desempenho conjunto do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central (BC) e foram divulgados há instantes pelo Tesouro. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), o superávit ficou em 4,19%.

FONTE: Valor Online


Amanhã sai o IGP-M de agosto e o BC emite nota com a dívida do setor público. É ficar de olho!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

DEBATE?

O primeiro encontro entre os prefeituráveis do Recife, realizado na Universidade Católica, teve de tudo, menos debate. O público presente estava ali, nitidamente, para fazer arruaça. A universidade pediu para que os candidatos não levassem a militância mas não adiantou. Era possível ver, nas ruas próximas à instituição, vans e micro-ônibus repleto de adesivos, que serviram de transporte para os baderneiros.

O auditório da Católica, onde o ocorreu o encontro, foi posto abaixo pelos presentes. Era adesivo colado nas paredes, cadeiras, gente em pé nos assentos, até o vidro de uma das janelas foi quebrado. Uma vergonha!

RAPIDINHAS

Inflação I
O mercado financeiro revisou para baixo pela quarta semana seguida a previsão para o índice oficial de inflação de 2008. Conforme a pesquisa Focus mais recente, feita pelo Banco Central (BC) na semana passada, a estimativa é de que IPCA aumente 6,34% este ano em vez de 6,44%. Novamente, o cálculo contempla que o indicador se encontre abaixo do teto da meta estimada para o exercício (6,5%).

Inflação II
O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) diminuiu para 0,24% na terceira medição de agosto após situar-se em 0,34% na leitura antecedente. Na abertura do mês, o indicador tinha subido 0,44%. Influenciou nesta suavização o comportamento do grupo Alimentação, que registrou queda de 0,45% no estudo recente, "a menor taxa desde a segunda semana de julho de 2006", destacou a Fundação Getulio Vargas (FGV) em nota, lembrando que naquela ocasião houve declínio de 0,64%.

BALANÇA COMERCIAL
Desde janeiro até o dia 24 de agosto, a balança comercial brasileira apresenta saldo positivo de US$ 15,932 bilhões. No intervalo, com 162 dias úteis, as exportações somaram US$ 126,022 bilhões e as importações equivaleram a US$ 110,090 bilhões.

FONTE: Valor Online

FUNDO SOBERANO: Pra que te quero?


Tive a oportunidade de conversar com o deputado federal Pedro Eugênio (PT-PE), relator do Projeto de Lei que cria o Fundo em uma das comissões na Câmara Federal. A entrevista foi publicada na Folha de Pernambuco desta segunda (dia 25) e, devido àquela velha questão de espaço nos veículos impressos, saiu com alguns trechos cortados - o que é perfeitamente normal e aceitável.

Por se tratar de um tema atual e de bastante interesse nacional, publico aqui os trechos mais relevantes (que não saíram no jornal, óbvio).

O Fundo Soberano Brasileiro (FSB) ainda é um tema cercado de muitas polêmicas. Até pessoas envolvidas no debate têm uma certa dificuldade para compreender o assunto. O senhor pode explicar, resumidamente, do que se trata o fundo?
O Fundo Soberano, fundamentalmente, é o seguinte: de tudo que o governo arrecada no ano, ele vai separar R$ 14,5 bilhões e vai direcionar esse recurso ao fundo. Esse fundo vai aplicar esses recursos para apoiar empresas brasileiras no exterior, investimentos que sejam do interesse dessas empresas, e vai aplicar também no país. Para fazer esse trabalho de financiamento de ativos, vai ser criado um outro fundo – que vai ser, provavelmente, administrado pelo BNDES – dentro desse fundo maior. Esses recursos devem ser utilizados para fazer projetos de desenvolvimento. Além disso, esse fundo vai servir para outras coisas. Com esses reais, ele vai poder comprar dólares que entram no mercado. Como ele (o fundo) tem essa função de aplicar em projetos no exterior, no momento que compra e usa esse dólar para alguma ação lá fora... Digamos para entrar como sócio num conjunto de empresas brasileiras que vai implantar um projeto na África. Essa atividade vai precisar de alguém para pagar, não é dinheiro dado, não. Esse dinheiro vai ser emprestado lá fora e depois volta para o Brasil. Esse dólar sai do Brasil, e ao sair do Brasil, deixa de pressionar o câmbio.

Mas o Banco Central não já vem atuando nessa questão?
É... O Banco Central vem enxugando, tendo que comprar esses dólares. Mas ele compra esses dólares com recursos que precisa tomar emprestado. Ele toma emprestado e aumenta a dívida do país para poder tirar esse dólar.

Mas da mesma forma que ele aumenta a dívida, também aumenta a reserva.
É verdade. A dívida líquida não cresce porque ele (o BC) aumenta a dívida de um lado e a reserva do outro. Mas, da mesma forma, ele está lançando títulos e isso acaba pressionando a taxa de juros para cima. O fundo não vai precisar fazer esse caminho, ele vai direto com o real, compra o dólar e usa o dólar lá fora. Por isso ele trabalha no sentido de não valorizar tanto o real, isso faz com que nossos produtos sejam mais competitivos. Ele ajuda nesse esforço de ter um câmbio mais favorável às nossas exportações.

Como o BC tem reagido à criação desse dispositivo?
Olha... O BC tem, nas declarações públicas que tem feito, apoiado o fundo. Essa não é uma iniciativa isolada do Ministério da Fazenda ou do Tesouro Nacional, o BC faz parte do Governo Federal e está apoiando. Se, internamente, ele está insatisfeito, eu não sei. Isso é outra história. Mas o governo, como um todo, está apoiando essa iniciativa.

Como vai haver coordenação entre o Fundo e o Banco, no sentido de que ambos vão estar trabalhando com instrumentos que lidam com liquidez monetária, mercado de câmbio, etc? É preciso que um não contradiga o outro.
É verdade. Não está prevista uma coordenação formal, embora na formação do conselho de administração do fundo seja recomendado que esteja sentado um representante do BC, um do Tesouro, um da Fazenda. De qualquer forma, nós conversamos com o pessoal da Fazenda e eles disseram o seguinte: “Hoje, já existe essa duplicidade de ação, onde o BC utiliza títulos do Tesouro para fazer política monetária e o Tesouro lança títulos para administrar a dívida (política fiscal)”. Então, hoje, se houver alguma dificuldade de coordenação não é porque o fundo criou essa dificuldade, é porque deve ter ocorrido alguma falta de sintonia entre eles. Não é um instrumento que diz: “Ah, antes um só fazia isso, agora os dois fazem”.

Trazendo essa discussão para a seara política, o projeto está tramitando em regime de urgência, muito embora tenha ocorrido uma movimentação para tentar retirar isso.
É, mas não foi retirado.

Mas só pelo fato de ter ocorrido o movimento significa que existem insatisfações. Como estão sendo costurados os acordos políticos para que o Projeto de Lei seja aprovado no prazo?
Veja, alguns parlamentares tomaram essa iniciativa, se não me engano foi o deputado Jardins (Arnaldo), do PPS, fizeram um documento com assinaturas e entregaram ao Henrique Fontana (líder do governo). Foi uma solicitação, porque regime de urgência só pode ser retirado pelo autor, no caso, a União. É uma prerrogativa do autor. O governo entende que deve ser mantida a urgência, pela razão de que os recursos já estão sendo poupados. Esse excesso do superávit já está sendo reservado e se chegar em dezembro...

O governo já dá como certo, então?
Não... Mas se até dezembro você não cria o fundo, esse recurso vai ficar sem aplicação e não poderá passar de um exercício para um outro. Terá que, provavelmente, ser esterilizado. Há, realmente, uma pressa grande e vamos discutir. Acordos são feitos a partir do momento em que se discute e aí as coisas se aceleram.

Em relação, por exemplo, a relação do fundo com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)... Ele (FSB), caso aprovado, não terá que aplicar os seus recursos somente após serem atingidas as metas previstas no orçamento?
O Fundo está trabalhando com o conceito de excesso de superávit primário. Parte-se do princípio que a arrecadação prevista na lei orçamentária se confirme. Se por acaso a receita só for suficiente para cumprir as metas da LDO, aí não tem excesso de superávit e não tem um tostão para o fundo. Por exemplo, se o orçamento prevê R$ 100 para 2009 e digamos que R$ 90 seja recursos para custeio e invesimento, R$ 10 para o superávit primário, e R$ 2 o excesso. Isso dá R$ 102. Se, de repente, o que se arrecada é 95, você paga os R$ 90, paga mais R$ 5, não cumpre a meta do superávit e o fundo... O fundo, esse é que não vai ter nada, mesmo. Então, para o fundo acontecer é preciso que haja o orçamento e o superávit fiscal previsto.

Alguns economistas dizem que vamos nos endividar mais para aplicar no fundo, que vai render menos do que vai custar a dívida com a qual o próprio vai ser comprado.
De fato, se você for ler o fundo (o PL), ele permite operações de lançamento de títulos. Em determinado momento, se a autoridade monetária quiser, ela pega título do tesouro, lança, pega o real e compra dólar para fazer aplicação no exterior. Do ponto de vista financeiro, é algo irracional. Teria que ser uma aplicação extraordinária lá fora. No entanto, se você imaginar que, daqui a dois anos, a Selic vai deixar esse patamar e cair para a metade, aí você tem uma aplicação lá fora que vai render mais.

O senhor não acha arriscado acreditar que a Selic vai cair isso tudo em dois anos?
Não, mas... Eu estou fazendo uma hipótese que, se isso acontecesse, poderia ser feito um endividamento. Não é fazer um endividamento agora supondo que ela vai cair. O fundo só vai usar esse recurso (lançar títulos) se a Selic cair. Além dos recursos do superávit, eu não vejo para que o fundo vai se endividar.

Com a divulgação recente do déficit registrado na balança de pagamentos, esse momento seria propício para por em prática a experiência de um Fundo Soberano?
Esse fundo não está sendo criado para administrar um momento conjuntural. Ele está sendo criado para nós termos um instrumento, já que sempre que há excesso de dólares, há a necessidade de trocar por real. Mesmo saindo esses dólares tanto como estão saindo, você terá um momento em que a economia estará aquecida demais e o BC vai precisar retirar reais. Quando ele troca por dólar, ele bota real e tira real ao mesmo tempo. O fundo vai ajudar nessa questão. Não é um instrumental conjuntural. E, inclusive, na minha opinião, ele vai abrir espaço para outros fundos. Com a receita do petróleo, esse fundo poderá até ser alimentado e fortalecido. Mas a preocupação do presidente Lula em ter a educação financiada com recursos do Petróleo, vai ser preciso outro fundo específico para isso. E tem que ser muito bem calibrado, porque se você inundar o país com real, trocando dólar por real, para jogar tudo isso na educação da noite para o dia, aí pipoca! Não é um mecanismo fácil. Você tem que programar despesas para 50 anos a frente. O que a Noruega fez? Pegou esse dinheiro e disse: “isso aqui vai ser para a previdência”. Então, o dinheiro não está sendo distribuído para todo mundo logo de imediato, não. Ele está estocado e será devolvido aos cidadãos, pouco a pouco, em forma de aposentadoria. É como se fosse uma barragem. Se você abrir tudo de uma vez, todo mundo morre afogado. Tem que ir soltando aos poucos, todo mundo irriga, bebe a água e fica satisfeito. Assim, ela vai dar para 50, 100 anos.
*A matéria publicada no jornal está disponível no link:

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